Jeferson Tonin
Paulo Niederle
Evandro Pedro Schneider
O artigo analisa as habilidades sociais mobilizadas no enfrentamento à pandemia da Covid-19 a partir da construção de mercados alimentares territoriais. Em diálogo com a Teoria dos Campos de Ação Estratégica, foram analisadas estratégias de digitalização dos processos de comercialização empreendidas por atores hábeis e suas coalizões políticas em dois territórios do Rio Grande do Sul: Litoral Norte e Médio Alto Uruguai. A pesquisa envolveu observação direta da estruturação de sistemas digitais de venda de alimentos e 72 entrevistas realizadas com atores envolvidos na construção desses sistemas (gestores, agricultores, consumidores, lideranças políticas, consultores). As entrevistas foram conduzidas entre novembro de 2020 e novembro de 2021. Elas foram transcritas e processadas utilizando o software NVivo, para posterior análise de conteúdo. Os resultados demonstram que, em ambos os territórios, a configuração das estratégias foi influenciada pela capacidade diferenciada de engajamento de outros atores, notadamente das organizações de agricultores familiares e de consumidores; pelas características socioeconômicas específicas de cada território, com destaque para a distância dos centros de consumo; e, de maneira especial, pela ausência de políticas públicas voltadas ao fortalecimento de mercados alimentares territoriais face a um contexto de desmantelamento da estrutura estatal de suporte à agricultura familiar durante o governo Bolsonaro. As conclusões do estudo sugerem que as habilidades sociais das organizações analisadas permitiram a construção mecanismos de resiliência relevantes durante os momentos mais críticos da pandemia, mas que, face às barreiras institucionais, logísticas e políticas com os quais se depararam, não tiveram condições de produzir mudanças substanciais no sentido da territorialização dos mercados alimentares.
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